Friday, November 24, 2006

Todo prazer é temporário. Nem tanto por ter um fim o desejo ou não durar muito a que se quer, mas como também pelo tempo, que se não gastar, quebrar ou se diluir, certamente envelhece.

Tuesday, November 21, 2006

Quem não sabe de mim o que é dos outros?



Quem dera soubesse eu quem sou,
e fazer com que acreditem nisso que digo ser.
De antemão,
numa forma preconceituosa, me fazer parecer ser.
Depois, crendo qualquer um nisso que sou,
sempre se fará como conhecido ou conhecedor de mim,
e eu a me mascarar por mim e em mim,
desse mesmo que me acho ser e que outrora digo que sou,
sendo até por vezes outros,
como amanhã ou depois vou acabar sendo:
qualquer qualquer de até ser até...
Por isso tudo me vicia e me escorre
varias vezes por dia
servindo-me para nadas...
Talvez eu seja uma entidade...
Uma farsa... Uma idéia de gente...
que surge de tempo em tempo,
na forma de uma pessoa comum,
ou no lugar que estou...
pois eu poderia ser mil ou um,
já que não sei quem sou.



*
*
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Vice-versa



As mulheres amam, vice-versa,
os homens amam as mulheres
e pronto;
e em que cemitério nos encontraremos ?
Qual túmulo de amores e desenganos no palco da carne !?!?
À parte, um pouco das mulheres, um pouco dos homens
e pronto.
A fora todos sujeitos às nuvens que passam,
os olhos enganam,
arrastam:
um monte de olhares.
Submetem-se:
ao infinito de perguntas
(mesmo sem nenhuma),
escancaram-se com estranhas vontades
num labirinto de respostas
e se perdem . . .
. . . Caminham indagativos,
esquecem,
enlouquecem,
não se comprometem,
e quando sim, às vezes,
apaixonam-se,
traem,
lambuzam-se,
tocam-se
e acordam . . .
. . . com segurança e certeza trêmula
ainda que intensa e sutil,
amadurecem os enganos,
tornando tudo em acertos:
ora regados de lamentos,
ora amenizados com perdões de cimentos;
Tudo no medo e no desejo:
ainda que regado de beijos,
ainda beijos regados de segredos,
os quereres e outros tempos
e pronto . . .
*
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Desenlace



Amor de malas prontas,
acho que agora posso chorar.
Do meu peito-endereço
ao teu novo
[caminho,
que em tal sorte não sei,
tudo é cinza e nublado.

Tu me deixas e saio de te.

Do vazio intragável
no nada herdado em solidão,
as sobras completam
o que para mim
foi e é resto.

Crer, admitir, aceitar...
ou qualquer outro verbo
chamado sentença
jaz-me vivo
no imóvel desocupado que sou
do lado esquerdo do sol;
e se desta forma te esvais
[cheia de porquês
em palavras pesadas,
a repugnância da tua voz
enfeita o absurdo
ao qual tento engolir em cacos.

Ao abuso adquirido considero soro.

Vil em estar,
perto ou longe,
posso ser lixo, calçada
ou pano perdido
no chão de lástimas
onde descansei
minhas frágeis esperanças.

Amor de malas prontas,
desenlace,
acho que agora posso voar.


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A Flor e o Flutuar


Na beira do abismo existe uma flor,
amarela e só ela,
busca firme, neste ínterim
o rio de prata...


Suas raízes exploram,
mais e mais a cada dia,
a solidão do interior da terra,
porém, é só como essência
naquele solo do mundo.
Dorme no berço do nada,
Rico é o pingo amarelo na paisagem
como um teimoso e corajoso
[ lábaro de vida.
Majestosa posição
de uma audácia flutuante,
lá fincada,
só os pássaros a alcançam,
junto ao cinturão de fogo,
que ao redor tudo é oco
e ocupa o oco o sopro forte
[ dos ares do norte.
Na beira do abismo
existe a morte
para quem não sabe flutuar
[ como a flor.

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